terça-feira, 17 de agosto de 2010

não me leve a mal,

sentada na poltrona da sala vazia, ela segurava uma carta na mão. lia, atenciosamente cada linha, cada vírgula, lia e relia, e parecia não acreditar no que seus olhos viam.
palavras tão doces saídas da mente daquele rapaz que ela considerava, que dava valor.
palavras lindas. só isso.. lindas mentiras!
dobrou a carta e colocou delicadamente sob a mesinha ao lado da poltrona, puxou caneta e papel, e começou a redigir. sabia que ele não iria ler, pois ela não iria mandar. mas precisava escrever o que estava sentindo, o que estava pensando. escrever, apenas:
" por muito tempo acreditei que você me compreendia realmente. confiei em ti, ri contigo, tu foi e permaneceu meu melhor amigo desde muito antes de eu saber o que significava esse conceito. te contei segredos, te confortei quando precisou, te amparei, e caí no teu colo muitas vezes, pq eu também tive medo, também fiquei triste, também me sentia sozinha as vezes. engraçado, como a palavra sinceridade é contraditória quando se tratam de sentimentos, dos teus sentimentos, é claro.. pq eu me lembro, de sempre ter sido sincera contigo, e da minha parte tenho certeza, de que fui boa amiga até o fim. o que para mim foi terrível, pois por sempre ter te considerado, jamais esperava que tuas palavras fossem mentiras, jamais esperava que fosse me decepcionar tanto com alguém que amava muito. esse final é triste, mas não tanto quanto deve se a sua vida.. pra alguém que acha que engana o mundo, mas só engana a si mesmo, sua vida de faz de conta é vazia, triste, limitada. e mesmo depois de todas as mentiras, as noites chorosas, as conversas, as reconciliações, continuo tendo certeza de que amiga como eu, tu nunca mais vai enontrar. e é mais triste imaginar que daqui a alguns anos, as pessoas cansadas das suas mentiras, não vão mais te aguentar, e você vai se encontrar sozinho, sentado numa sala escura, se perguntando o que você fez de errado, pq ninguém gosta de ti.
talvez nesse dia, você se lembre de mim, talvez nesse dia você até queira falar comigo, saber como eu vou, o que eu fiz durante esses anos, e pq eu me distanciei. talvez você queira reatar a velha amizade, e desejar que as coisas voltassem a ser como antes. e eu vou olhar em seus olhos tristes e solitários e dizer: não me leve a mal, mas não custumo maltratar as pessoas de quem gosto, nunca o fiz, e não mereço que o façam comigo. tenho muitos amigos. amigos que me são sinceros de verdade. que gostam e realmente se importam comigo, talvez a um tempo atrás eu até teria cogitado essa possibilidade, mas agora, agora é tarde demais. não me leve a mal, as coisas são como elas são, eu te disse que isso iria acontecer, e você só está pagando pelas coisas que fez durante essa vida egoísta e vazia ."
ela sorriu,satisfeita, aliviada. juntou a carta antiga com a que acabara de escrever, e queimou. viu a fumaça subir e o papel se desmanchar, pouco a pouco, levando seu último remorso, e com ele, toda e qualquer memória daquele rapaz, que ontem era parte de sua estrutura, mas que hoje era apenas uma vaga lembrança amarga, de uma amizade que se esvaiu como tempo, e que foi embora com as cinzas.

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