sexta-feira, 1 de outubro de 2010

medo do fim

quando eu era pequena, um milhão de vezes me peguei pensando na morte. em como eu tinha medo, e o como eu me sentia menor ainda perto dela. a morte era uma coisa muito complexa na minha cabeça de 5,6 anos; mas eu sabia o suficiente para ter medo dela: levava embora pessoas queridas, sem direito de escolha, numa viajem sem volta. e eu morria de medo de ir e não voltar. ou que a morte viesse buscar qualquer pessoa da minha família. temia mais pela minha mãe, e ficava grudada nela, na espreita, como uma guardiã silenciosa. mas quem me salvava era ela. antes de dormir, durante alguns anos, a morte invadia minha cabeça, conversava comigo em pensamento tentando me assustar; e conseguia. minha mãe que era extremamente corajosa pois não tinha medo dela; me disse pra rezar antes de dormir. assim eu fazia, e aos poucos a morte foi se despedindo das minhas noites, e eu pude ficar aí, mais alguns anos sem a presença dela em minha mente. voltamos agora para os meus 17 anos; eis que numa noite no carro, voltando de um restaurante, a morte me pega de surpresa e aparece em minha cabeça do nada. perguntas se formam, como que feitas de borracha; e ficam batendo nas paredes da minha mente, tentando pular pra fora, como se minha cabeça quisesse explodir. pensei como homer: cale a boca pensamento, ou te enfio uma faca! mas as perguntas não se intimidaram. conseguiram triunfosas escapar pela minha boca e eu fiquei perguntando pra mim mesma, com o mesmo medo dos meus 5,6 anos de idade:tudo isso um dia vai acabar? eu vou morrer e pronto? não vou poder aproveitar mais, curtir mais, viver mais? eu que tenho tanta fome de vida! acabei de começar a viver! não é justo que tudo acabe, sem volta. não pode ter um fim!click. um estalo na minha cabeça e meus pensamentos agora faziam silêncio. eu havia descoberto o medo dentro do meu medo. eu não tinha medo de morrer, eu tinha medo do fim! do fim dos meus dias divertidos, fim das conversas, fim de saídas, e das coisas mais simples da vida. tive medo de nunca mais comer maçã do amor. então vi como o mundo parecia escuro pra mim. e que mesmo com toda a minha fome de viver eu estava pessimista. o medo tomou forma líquida e escorreu pelo meu rosto, junto com todas as minhas preocupações. sentada na sala, conversando com a minha mãe, (senhora corajosa, tem lá seus 40 e alguns quebrados, continua sendo a pessoa mais forte da família.) me acalmou como fazia antigamente e disse pra mim que me preocupava pq queria. pessoas que pensam demais acabam vivendo de pensamentos! não era o que eu queria. lendo um livro do seicho-no-ie, consegui relaxar espiritualmente. a única certeza que temos no mundo é que vamos morrer. mas isso não quer dizer que seja o fim. depende muito do ponto de vista das pessoas. sei que pode parecer meio estúpido ou talvez religioso, mas naquela noite, consegui silenciar os pensamentos que pipocavam a minha mente, aceitando que existem coisas complexas demais pra gente entender. por isso temos que nos permitir! viver tudo que há pra viver.. deitei e durmi. o mesmo sono gostoso do fim das minhas dúvidas; dos meu 5,6 anos.

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