sábado, 4 de setembro de 2010

e disse adeus.

desceu as escadas correndo, sentiu as lágrimas querendo cair, não ia chorar. não ali.
passou pelas pessoas na rua de cabeça baixa, o vento cortante de julho batendo no rosto. não bastaessem todos os acontecimentos dos dias anteriores, essa quarta-feira fria e nublada parecia que tentava derrubar ela ainda mais. ela não queria sentir-se daquele jeito, jamais tinha se visto nessa posição. sofrendo, chorando? por alguém que nunca mereceu! mas não conseguia ignorar aquela dor dilacerante e gelada no meio do peito. "amar nunca foi bom.- pensou.- e eu sempre soube disso!" sempre soube de tudo, sabia que iria sofrer, sabia que condicionar as pessoas a serem perfeitas e criar expectativas enormes em cima delas só ia causar desilusão. sabia como estaria se sentindo, sabia de tudo. mas havia sido indiferente com a razão..
abriu a porta atordoada, como dói essa coisa que chamam de amor.
entrou no quarto, fechou as cortinas, sentou na cama abraçada no ursinho de pelúcia que ganhara de presente. iria queimar tudo! as cartas, as fotos, os presentes, e esse maldito urso.
procurou um balde, encontrou uma lata de alumínio grande, - isso deve dar.- acomodou na sacada, e começou a jogar as coisas lá dentro:
as cartas que ele escreva meses antes, com palavras lindas de um amor que nunca existiu, as pétalas da primeira rosa que ele deu, que ela guardava no meio de seu livro predileto. os cartões de dia dos namorados, os brincos, olhou em volta, arrancou as fotos do mural e a do porta retrato foi com o porta retrato junto. agarrou o urso pelas orelhas, como se estivesse segurando a ele, atirou no latão. jogou álcool e ateou fogo à tudo. fechou as portinhas da varanda e sentou-se na poltrona. estava fechada para o amor, dali a diante. ele havia batido nela, cuspido nela, feito dela uma pobre coitada, apaixonada. que coisa mais ridícula.
olhou no espelho, viu a imagem que nunca queria ter visto, uma menina fraca. ela nunca foi assim! despiu-se, colocou uma roupa bem bonita, se maquiou e sentou-se em frente ao espelho. agora sim. uma imagem de mulher, forte. saudável. blindada, impenetrável.
sabia que depois daquele dia jamais se comportaria da mesma forma, comprometeu-se a tornar a vida deles uma tortura. e disse adeus àquela pobre menina apaixonada, que morreu no instante em que seu coração foi partido.

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